18.1.09

sobreviventes

Todos querem "ter" alguém, porém nem todos decidem ter alguém. Está aí uma coisa muito difícil de fazer: decidir jogar toda sua vida para cima, espalhar todas as peças e reconstruir o imenso quebra-cabeça, somando e encaixando tudo isso à vida de outrém. Fazer com que se encaixem o passado, presente e futuro de duas pessoas, como num quebra-cabeça de milhares de peças. Encaixar tudo isso não é fácil, porém o resultado é sempre o mesmo - a gente fica olhando, olhando a imagem completa do quebra-cabeças e então logo vem aquela vontade de nunca mais desmontá-lo. É perfeito, não faz sentido separá-lo.
Isso que ocorreu quando um dia, decidi enfrentar um "início de relacionamento". Tive que decidir abrir espaço na minha vidinha egoísta, para a entrada de outra pessoa, até então desconhecida. Misturar a cultura e a história de ambos, de forma que nem um nem o outro saiam perdendo - tanto. Nesta etapa sempre saímos com algum prejuízo, pois torna-se necessário abrir mão de muitos constumes até então prazerosos. Dói muito. Talvez este seja o maior motivo pelo qual casais tão apaixonados em um início de relacionamento, para a nossa surpresa, acabam por separar-se logo nos primeiros meses de namoro. Mas esta dor diminuiu, e um dia todas os "hábitos individualistas" que deixei para trás quando iniciei meu relacionamento foram substituídos pelos milhares de prazeres que o convívio com o outro me proporcionou, e que até o momento, eram desconhecidos. Experimente provar isto, vale muito a pena.
Quando o álcool não preenchia mais o vazio, percebi então que uma atitude deveria ser tomada. É incrível como a pessoa certa está perto da gente, e é incrível também que basta decidir pela mudança que ela aparece em seu caminho. É fácil assim, sim. Já não importa mais se a roupa é moderna ou se tem bela aparência, pois estas coisas a bebida nos proporciona. O que importa agora é "o que você deseja para nós, nos próximos anos?", e sabe o que é mais interessante? Tem sempre alguém pensando assim, bem perto da gente. Antes de gritar por aí que você não "consegue" namorar, pergunte-se: estou preparado para enfrentar isso? Se não estiver, tome um banho e vá beber com os amigos pois isto também é vida. Cada momento é um momento, e cada um tem o seu momento.
Tudo teve início com um simples olhar simpático no costumeiro caminho para casa. Estas coisas começam assim, em qualquer lugar. Hoje em dia a internet facilita muito, mas confesso que prefiro o registro de um olhar simpático. A única coisa certa é que nem sempre (ou quase nunca) a pessoa por quem vamos nos apaixonar vai surgir em nossa frente com uma entrada cheia de efeitos: isso não é o show da madonna, entende? Estou falando de amor! Estou falando de valores que não necessitam de fogos ou iluminação artificial, pois já são preciosos naturalmente. Pelo menos para mim.
Será? Será? Queria conhecer alguém de verdade, sabe? Namorar, fazer todas essas coisas que os casais fazem. Inicialmente isso se prendeu aos meus pensamentos como sendo a grande resolução de todos os meus problemas. Se estivesse namorando, tudo ficaria bem. Realmente foi assim que aconteceu, e é assim que eu me sinto atualmente. Ocorre que ninguém avisou que o início é tão complicado. Até que se cristalize o prazer da segurança, do bem estar e da intimidade, muitos eventos desconfortáveis ocorrem, e um deles (ainda mais para pessoas ansiosas, como a que escreve este texto) é o temporal de dúvidas: Será que eu vou me acostumar com isso? Será que eu quero isso pra mim? Será que vai ser assim pra sempre? Será que vou ser traído? Será? Este é o momento que, mesmo acreditando estar preparado para iniciar uma vida a dois, vamos ter certeza se estamos preparados para tal. É a hora de continuar, ou cair fora definitivamente. Decidi continuar.
Então, o roteiro (de texto um pouco pessimista) que descrevi acima, começou a mudar, e muitas coisas novas começaram a surgir. Percebí que sou incapaz de realizar muitas coisas sozinho, e então acordei do sono do egoísmo que por anos me prendeu. Era o medo de mudar a vidinha e os costumes fáceis que só preenchiam, mas não causavam o impacto que eu precisava para ir em frente. Surgiu a força e desapareceu o vazio - o coração começou a bater de verdade. Surgiu a unidade formada por segurança, intimidade, importância, convívio e compreensão. Este foi o início do futuro, e não apenas o início de um namoro. O muro foi derrubado.
Hoje, quando olho ao meu redor, eu sinto a mais forte nostalgia em lembrar-me dos momentos que vivi comigo mesmo. Como foi bom! Testei-me de diversas formas, desbravei o mundo até atingir a linha divisória, o limite da solidão. Fui até onde meu ego mandou, para descobrir que faltava algo. Não havia como seguir sozinho, dali para diante. Decidi ganhar força, me unir.
Já passam de dois anos que a linha foi cruzada, e eu continuo caminhando. Chego a conclusão que continuarei sempre seguindo nesta direção: olho para frente e não vejo o fim, pois não há mais linhas divisórias ou limites.
Sou um sobrevivente do quebra-cabeça chamado "início de namoro". Agora que ele está completo, encaixado e perfeito, vou colar as peças para que nunca mais desmonte.